DÉBORA MISMETTI
EDITORA INTERINA DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
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O remédio Cordaptive, que associa duas substâncias para aumentar o
colesterol "bom" (HDL) e reduzir o "ruim" (LDL) e os triglicérides, vai
ser recolhido nos cerca de 40 países onde era vendido, inclusive no
Brasil.
De acordo com a MSD (Merck), fabricante da droga, a decisão foi tomada
após a análise de dados preliminares de um estudo internacional sobre o
remédio.
A pesquisa, com mais de 25 mil pessoas, mostrou que o Cordaptive não
reduz o risco cardíaco e, ainda, aumenta a chance de efeitos colaterais
não fatais, mas que não foram detalhados pela empresa.
No Brasil, segundo o laboratório, 1.500 pessoas usam o medicamento.
Recomenda-se que elas procurem seus médicos para receberem novas
prescrições.
O resultado ruim vem depois da interrupção de dois testes clínicos sobre
outros medicamentos que também tentavam reduzir o risco cardíaco
aumentando o colesterol "bom", o que levanta dúvidas sobre o futuro
dessa estratégia para evitar infartos.
O Cordaptive é composto por niacina (vitamina B3) e uma substância
chamada laropipranto. A niacina ou ácido nicotínico reduz a produção de
triglicérides (gorduras) e aumenta a fabricação do colesterol "bom", que
ajuda a "limpar" as artérias, recolhendo as gorduras que formam placas
nos vasos.
VERMELHO
O problema é que essa substância é vasodilatadora e causa vermelhidão
intensa e sensação de calor no rosto, como explica o cardiologista Raul
Santos, diretor da unidade clínica de lípides do Incor (Instituto do
Coração da Hospital das Clínicas de SP).
Para aumentar a tolerância dos pacientes à niacina, foi adicionada ao
remédio a substância laropipranto, que combate esse efeito colateral. É
essa combinação que vai sair do mercado. A niacina sozinha continua à
venda.
De acordo com Santos, o remédio é recomendado a pessoas que não
conseguem tomar as estatinas, drogas mais usadas no controle do
colesterol, por sofrerem com alergias ou dores musculares.
Pacientes que já haviam infartado e tinham colesterol "bom" muito baixo e
os que têm triglicérides e colesterol "ruim" muito altos também
poderiam usar o medicamento associado às estatinas.
Em 2011, um artigo publicado no "New England Journal of Medicine"
questionava se já não era hora de aposentar a niacina. Em sua forma
isolada, ela está no mercado há 50 anos, mas, em estudos recentes, a
droga tem mostrado resultados fracos.
Segundo o cardiologista, editor da diretriz brasileira para o tratamento
do colesterol elevado familiar, apesar do resultado "decepcionante" do
Cordaptive, a niacina sozinha ainda pode beneficiar alguns pacientes. No
entanto, sua indicação fica cada vez mais restrita.
"Sabemos que o HDL baixo é um sinal de risco. Mas esse é mais um estudo
mostrando que usar um remédio para aumentar o HDL não protege o
paciente."
Para Santos, por enquanto, o foco continua na redução do colesterol "ruim".
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